REVISTA LASANHA
Hits Horríveis, "Coluna-Anti-Midiática" por Flávio Matos

   

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sexta-feira, 27 de julho de 2007

Bang monetário & cyber putas (Roma foi pouco)

O carinha numa ilha rosa come uma sacana digna de clip gangsta rap, paga em uma moeda inexistente: "linden dollars", volta voando pra cidade que ele mesmo projetou, não sem antes passar numa lojinha dum subúrbio criado por um encanador de Bordeaux pra comprar mais oito centímetros de pau extra.
Perfeitamente possível. E apesar da incoerência, essa panaquice é justificada. Esse tal "Second Life" nunca me desceu. Em primeira instância pelo dito - e feito - "mundo virtual" sempre ter me cheirado a picaretagem de tarados e empresários espertinhos (muitos deles tarados, também). O que não vem ao caso. É só uma opinião ultrapassada dum sujeito meio xucro, tenhamos isso em conta. Mas "segundamente" é que Second Life me pega: tendo - obviamente, até - a liderança absoluta de usuários americanos, o mais óbvio ainda nos salta à vista. Grana. Como era de se esperar, os tais linden dollars podem ser convertidos em moeda real, e a "lindex" (uma praça financeira virtual) atualmente chega a movimentar 2 milhões de doletas por dia. Nesse clima, - com o Brasil totalmente contagiado por essa febre, aliás, como qualquer outra febre, nesse país – como diria Laurindo- “HIV positivo cultural” onde qualquer gripezinha gringa instalada desenvolve-se em pneumonia e acaba em coqueluche -, os linden dollars estão cotados em mais ou menos 135 pra R$ 1. Então o que acontece? O criador brasileiro da garota que se prostituiu no começo desse texto vai a uma loja de outro francês (segundo maior país em contingente usuário do " second mundo") e compra umas posições sexuais novas pra faturar mais grana. Aproveita e compra mamilos com piercings. Percebe? Com a existência mais de 8, 1 milhões de "residentes" do jogo, o sujeito paga a faculdade da filhota dando o rabo a vida toda sem ao menos tirar as calças ou sair de casa. E o francês compra uma mansão vendendo tetas. Até aí beleza. Mas imagine se o Maluf descobre uma mamata dessas e vira usuário? Ele pode criar seu paraíso fiscal à sua imagem cara-de-pau e à semelhança de seus bens arrematados de forma duvidosa (e escolher a cor); pode investir na lindex, e pode lavar dinheiro virtual convertido em real sem nunca ser incomodado pela PF - que ainda não tem nenhum parâmetro pra investigações do tipo, claro -, pode também ter cabelo roxo e se chamar Shirley, e se prostituir a 56 centavos de Euro o minuto, se assim quiser. Oficialmente nada daquilo existe. Fácil, né? Mas, poderia ser pior - e aí sim eu me preocupo -: Imagine você, chegar em casa e na secretária eletrônica tem um recado da sua garota que diz: "Olha Pacheco, eu tô fugindo com um nerd parisiense que projetou um shopping, têm uma ilha cor-de-rosa e dois helicópteros. Aliás, venho dando pra ele com meu "avatar" faz três meses, enfim, amor, eu tentei." Nada nos garante que o nerd parisiense não fique mesmo rico com essa merda. Como se piranhas em chats de canais de Tv a cabo não fosse deprimente o suficiente. O que mais me intriga é o Second Life começar (tarde demais, isso já ocorre) a virar First Life por aí como podemos ver abaixo:
"Second Life é um território de deslocamento extremo. Nos países em desenvolvimento, exercer uma atividade nele pode permitir incrementar o dinheiro dos fins de mês", segundo o depoimento dum pinta chamado Gregory Kapustin, criador da Web rádio Radiodelameduse.org. “Incrementar”, “Fins de mês”, “Países em desenvolvimento”. Saquei. E no cu, ianque, não vai nada? Só pra segurar a cotação dessa mixórdia foram injetados US$ 330.000 no decorrer de julho. E mais grana continua entrando ininterruptamente (não à toa impérios como Nike, Adidas e IBM, entre outros não menos graúdos, logo tiveram seu faro assassino por lucro incitado pelo jogo e trataram de incluírem-se também nessa selvageria). É bom negócio mesmo. Melhor que da China: da Linden Lab. E as pessoas parecem não mensurar o perigo disso. Imagina se o Paulo Coelho constrói um "Caminho de Secondtiago" e resolve reeditar sua obra em e-books? Não me cheira bem. É nesse mesmo balaio que estão Edir Macedo (que teria a “Igreja Virtual do Reino de Cyber Deus”) e congêneres: ganhando dinheiro à base da burrice alheia. Estelionatários gerais de alminhas infelizes. Vendendo o Deus que as pessoas não entendem e os cus que elas não comem. Taí a second life de gente que vende acessórios e posições sexuais dando muito certo, posto ser dos negócios mais lucrativos do jogo. Obscenos dividendos da second direto para a first life. Melhor que a encomenda de Gregory Kapustin, "incrementando o dinheiro do fim do mês", às custas da taxa mensal de 10.99 pela sua “premium account”, fora despesas (como atributos físicos, roupas e tudo mais). Quer dizer, então isso é mesmo negócio pra espertinhos e tarados? (?). Tem um horrível programa infantil de TV onde dentre os prêmios que eles distribuem, eu ouço crianças das mais sortidas periferias do país escolherem aos berros seu preferido: “Preistêixo dois!”. Uma delas era aqui do bairro. É sério. Sabem o que isso pode significar? Nem eu. Em um mês, EU carregarei orgulhoso o primeiro balde de manteiga feita pelos meus próprios esforços numa comunidade Amish, pra não dizer que eu também não tenho meu mundinho paralelo.
 
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